segunda-feira, 22 de junho de 2009

Diz-Parates, o fim de um sonho

Em Julho 2000 fundou-se oficialmente a URATE (União Recreativa "Os Amigos da Terra), uma associação juvenil sem fins lucrativos e com o seu principal objectivo colocado na formação cívica dos jovens.
Em Janeiro de de 2001 apareceu o teatro e avançamos com uma peça adaptada do Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente intitulada "Auto do Iate do Inferno". Esta, inicialmente trazida para o nosso seio pelo Renato Oliveira de um trabalho realizado na escola onde estudava na altura. Então a Isabel Cristina adaptou toda a peça para sátiras locais e aí nasceu o nosso primeiro trabalho teatral.
Um ano depois, avançou na URATE uma acção de formação na área da técnica de Clown onde nasceu um pequeno trabalho com vegetais a servir de telemóveis. Pegando neste, preparamos um outro para o aniversário do GOTA (Grupo Oliveirense de Teatro Amador) encenado pela Isabel Cristina.
Nesse mesmo ano recebemos o convite do Gabinete da Cultura da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis para participarmos no Festival Concelhio de Teatro. Logo nasceu a ideia de aprofundarmos o pequeno trabalho acima referenciado.
Na altura eu ainda não fazia parte desse trabalho, viria a ser convidado a quando da decisão da participação no festival concelhio. Aceitei de bom grado, até porque no Auto do Iate do Inferno, larguei o palco por uma lesão grave no joelho.
Inicialmente ensaiávamos nas instalações do Centro Social e Cultural de Carregosa, mais tarde passaríamos a ensaiar no salão de cabeleireiros Dona Dilunna, pertença da Isabel Cristina, e no final na escola primária de Carregosa.
Além de mim. o grupo inicialmente começou com Cláudio Cardoso, Filipe Rodrigues, Fernando Pinheiro, Hélio Soares, Isabel Cristina, Jean Ascenso, Luís Almeida e Miguel Silva. Mais tarde e para a luz veio a entrar Firmino Formigal e já numa fase final como actor Carlos Sousa assim como o Pedro, namorado da Isabel, e Jorge Jesus para apoiar na luz na falha do Firmino. O Cláudio, por motivos de estudos, afastou-se ao fim de alguns ensaios.
Todos juntos trabalhos e construímos algo cómico e mágico a que lhe chamamos "Diz-Parates". Uma hora e dez minutos de brincadeiras em palco que faziam sair gargalhadas aos mais introvertidos e lágrimas aos mais extrovertidos.
Em aproximadamente três anos actuamos por cerca de 20 vezes e passamos momentos lindos de amizade, fraternidade e convívio. Conseguimos uma menção honrosa na eliminatória distrital da primeira edição do concurso de teatro amador do INATEL.
Em 2005 começamos a ensaiar o segundo trabalho dos "Diz-parates" a que tudo indicava se iria chamar "Diz-Parate URATE". Mas por motivos pessoais, a Isabel Cristina afastou-se, assim como o Fernando Pinheiro, o Filipe Rodrigues, o Firmino Formigal e o Pedro.
Foi um caos. O grupo desintegrou-se e chegou mesmo a estar parado durante muito tempo sem ensaiar. Fizemos de tudo para que a nossa líder não se fosse embora, chegamos mesmo a propor ir ensaiar a casa dela, o que daria uma deslocação de cerca de 30 km por ensaio, mas nem isso a demoveu de se ir embora. Com muita mágoa eu sei, mas foi.
Com muito esforço, muita discussão, com novos elementos como o Rui Freitas, o Christophe Ascenso, o Alípio Soares e com ideias que não passavam disso mesmo, ideias que não saiam para o palco.
Mas finalmente em Julho de 2007 conseguimos levar a palco um pequeno trabalho dos "DIIzparates" com 15 minutos, que nos deu um grande fôlego para em Novembro do mesmo ano apresentar em Carregosa a uma casa cheia a rebentar pelas costuras, um trabalho de uma hora e meia.
Desde então, foram 40 actuações em dois anos e meio, percorremos Portugal desde Lisboa, Castelo Branco, Guarda, Tomar, Castelo de Paiva, Esmoriz, Santa Maria da Feira, Carregal do Sal, Cabanas de Viriato, Santa Comba Dão e outras freguesias nas redondezas de Carregosa. Vencemos a eliminatória distrital do concurso nacional de teatro amador do INATEL e arrecadamos um excelente sexto lugar em Lisboa na final com todos os vencedores de todos os distritos. Actuamos por duas vezes com os fundos a reverter para uma missão humanitária em São Tomé e Príncipe, na qual eu também fiz parte. Nessa ida a São Tomé, não resisti e, pegando num grupo de 15 crianças são-tomenses, fiz meia hora de Dizparates com eles. Os Dizparates fizeram por momentos esquecer a fome, a falta de brinquedos, a falta de escola, a falta de amor e deliciaram cerca de 100 pessoas que assistiram ao "Show".
Começamos a preparar o terceiro trabalho e ideias não faltaram até que em 15 de Junho de 2009 a Isabel Cristina "apareceu" e nos encantou com a ideia de que poderia voltar a trabalhar connosco. Ficamos radiantes mas depressa o sonho se tornou pesadelo. Ofereceu-se para vir trabalhar connosco mas com uma peça escrita por ela, não admitindo sequer a hipótese de conhecer o trabalho que já estávamos a desenvolver e ameaçando-nos de plágio de uma ideia de Isabel Cardoso que estava patenteada.
Exigiu o seu nome no cartaz, sendo essa a única forma de não nos acusar de plágio.
Ando sem fome, ando sem palavras, ando triste por ver este sonho mágico chamado Dizparates transformado em algo que nem sei explicar. Algo que nada tem a ver com o objectivo inicial. Esqueceram-se os momentos, esqueceram-se as amizades e fomos chamados ironicamente de "Meus queridos".
Acabou assim o sonho, a amizade.
Os "Dizparates" não têm futuro na URATE porque nada iria ser como antes, fosse de quem fosse a razão.
Seguiremos em frente sem medo e com a esperança que da árvore morta rebentará uma outra com mais força.
Ficam as boas recordações de sete anos de diversão em palco.
Bem haja URATE

PS. As palavras acima escritas são a minha versão dos factos, pelas quais me responsabilizo inteiramente.

José Augusto Santos

Os actores de Dizparates (faltando o Filipe Rodrigues)



Actores de DIIzparates


Em São Tomé e Príncipe

7 comentários:

Anónimo disse...

Leio e e volto a ler este teu post e fico naturalmente triste, sem vontade de continuar.
uma nova ideia? uma nova peça? é uma forma de contornar esta destruição. destruição de um sonho.
Poderemos voltar a ser felizes com uma nova ideia eu sei... mas também digo que rejeitei inumeras vezes o convite do Fernando para entrar nas peças dele porque dizia "só faço os "Diz-parates""... agora não sei o que pensar.

p.s esqueceste te do meu nome.

Miguel Silva

José Augusto disse...

Peço-te desculpa por falta do teu nome. Já emendei. Foi sem intenção.
Peço-te que ponhas tudo na balança. Não descortines nenhuma possibilidade e tira as conclusões.
Na próxima segunda feira conversamos.
No meu blogue não há censura, e o que escrevo é apenas a minha opinião e versão da história. Mas entre nós a questão deve ser discutida internamente.
Abraço.

Anónimo disse...

É complicado, eu sei, mas a situação a isso o obriga.
Primeiro de tudo, gostava de perceber porque raio havia de aparecer agora alguém a reclamar direitos de um trabalho para o qual não contribuiu com nada, mesmo nada. Nome? Trajes? E o resto? O conteúdo... A substância que fez da 2a peça o sucesso que foi? Não reconheço a essa pessoa nenhum tipo de legitimidade para o fazer (apenas no primeiro, aí concordo que foi muito importante). Ainda me lembro de convencer o Zé a continuar, mesmo que na mente dele, tal fosse inconcebível, porque faltava o elemento importante. Pois bem, o resultado foi o que se viu. E agora vem reclamar créditos? Reconhecimento merece pelo que fez, e não pelo que não fez.... Isso custa-me a compreender.
Miguel, vê o mail que te mandei. Se por um lado parece que perdes a guera, por outro acho que se ganha a batalha. Tudo o que conseguimos foi por sermos o grupo que somos, unidos, divertidos, empenhados, tolerantes e delirantes :) A questão da mudança passa para segundo plano se pensares que o que conta é o grupo, a essência somos nós e a nossa união, o resto surge como acréscimo. Podem nos tirar tudo, mas a nossa identidade não, quem somos, isso não muda.

Desculpa lá o "testamento" Zé :)

Abraço

Litos

Hugo disse...

Boas Diz-Parates,

Bem primeiro que tudo e relativamente a mensagem do Zé em relação "ao fim de um sonho", acho que não é verdadeiramente "fim" porque acho, que pela felicidade que vocês transmitem para fora do palco que uma vez sendo verdadeira vai-se manter por dentro. E sendo assim até pode terminar Diz-Parates (o nome) mas tenho a certeza que algo parecido vai surgir e muito provavelmente com o mesmo ou maior sucesso. O que me leva à segunda situação que quero comentar, que é relativamente à "causa" do "fim".

Penso que quando se comenta em blogues assuntos que normalmente são tratados em Tribunais ou entidades do género é errado.
Porque num Blogue nada do que se diz é definitivo são apenas expressões e sentimentos que se colocam. Por isso dar valor a assuntos, que podem ser ou não verdade e que a serem modificam posições, relações, etc. é errado. Até porque ao comentar-se esses assuntos alimenta-se a ideia seja ela verdade ou mentira. Da minha parte "malta" este assunto está por isso então encerrado em Blogues o que me leva ao meu terceiro e último comentário.

Fico a aguardar pelas novidades dos Diz-Parates seja com esse ou outro nome porque vai dar tudo ao mesmo uma vez que o que conta são as pessoas que desenvolvem o produto final no momento.
Quem já pertenceu apenas deve ser lembrado...

Se merecer ser lembrado é claro :)
ehehhe a meter mais "axas" na "fogueira"

"Todos devem ser lembrados sejam de qualquer feitio, sexo, raça ou planeta"

dani disse...

Alguém pode ter lançado a semente, mas quem a tratou, regou, cuidou e viu crescer foram vocês. E sempre ouvi dizer que é mais importante quem ama e cuida, do que quem só dá o ser.
Foram vocês que fizeram com que essa semente viesse a dar belos frutos que nos alimentam sempre da melhor forma.
Só peço que, com esta mesma semente ou uma outra nova, nos continuem a alimentar de bom humor!

'disse mas não' disse...

li com atenção o teu post, zé...

a urate começou a fazer parte do meu mundo aquando da realização do ciclopaper em currais/vacaria... já lá vão uns anitos, não muitos! comecei com a peça do 'omolete:uma tragédia punk' e ainda acompanhei algumas sessões dos diz-parates com a isabel, embora tenha sido numa fase final. lembro-me da menção honrosa de aveiro ou estarreja... não cheguei a conhecer a isabel, apenas falei com ela 1 ou 2 vezes, mas pareceu-me uma pessoa inteligente, com óptimas ideias, capacidade de liderar e de motivar/inspirar os outros... e claro, é uma mulher bonita, o que é óptimo, juntar o útil ao agradável! ao ficar a par desta novela de segundo grau (que não outro nome) fiquei atónito. não podia ser verdade. estariam a falar da mesma pessoa? os actos ficam com quem os pratica... arroga a autoria do quê? quando as pessoas se julgam mais e melhores do que realmente são, perdem a noção do ridículo e dirigem-se para todos de cima de um pedestal apócrifo. eu também queria ser o 'la féria' de muita coisa e andar ladeado de bajuladores e beija-cus, mas o meu carácter não o permite. Acho que falta humildade a essas pessoas ensimesmadas... não reconhecem que foi um trabalho de equipa e que, sem o outros estorvilhos, aquele gajo que é mesmo bom (que custou 94 milhões e cuja cláusula de rescisão é de 1000 milhões) não ganha a ninguém...
na minha opinião, os dizparates não devem terminar. assisti a algumas sessões experimentais do diizparates (que na minha humilde opinião é bastante superior à primeira) e vi o gozo que têm ao pôr em cena tal peça. vocês têm as ideias, vocês têm o talento de encher o auditório e de levar o nome da urate, de carregosa e do concelho por este país (sim, porque já vos vi em santa comba dão) e dizes-me que vão acabar? o desígnio dessa pessoa realizar-se-á e a comunidade local ficará mais pobre graças à prepotência de uma só pessoa. essas pessoas não sabem o que é o associativismo, a carolice e não sabem dar um pouco de si mesmas sem reclamar algo em troca, pois estão tão cheias de si mesmas.
reconsidera a tua posição. um conselho e um pedido.

abraço,
1 bezinho teu

Antonio Campos disse...

Sou um simples admirador do vosso grupo de teatro e sem conhecer minimamente os motivos ou a razão de tais acontecimentos, fiquei muito triste com o que li aqui. Mas peço a todos os que eu conheço pessoalmente, Zé Augusto, Miguel e Jan. Por favor não acabem com o Vosso sonho de fazer felizes todos os vossos fãs eu sou um deles a minha filha também e por este Portugal fora muitos milhares. Por isso peço em meu nome e em nome de todos os anónimos não acabem com uma coisa que vocês sabem interpretar na perfeição. Um Abraço e estou solidário com vocês.