O dia de Santa Marta, ficou marcado para mim, na ajuda que demos no apoio domiciliário a idosos na zona de Santa Catarina.
Após o canto matinal dos galos, cantamos e rezamos louvores ao Criador e ganhamos algum ânimo para um dia que se previa “difícil de digerir”.
Estou, uma vez mais, a desenvolver um pequeno trabalho na área do teatro na “técnica de Clown” com um grupo de cerca de 20 crianças. A apresentação ao público é já na próxima segunda-feira. Todos parecem estar preparados e muito motivados para fazerem rir os seus familiares e amigos.
Após o almoço, avançamos para o apoio domiciliário a idosos, projecto apoiado pela cooperação portuguesa e coordenado pelas irmãs franciscanas de Neves. Arroz, óleo, açúcar, roupa e sabão, são a lista dos produtos entregues que enchiam uma pequena saca plástica. Não é muito, não é nada, mas ajuda bastante aqueles que já não conseguem subir os coqueiros, nem derrubar as bananeiras.
Invadimos a privacidade da pobreza daqueles que já nada têm a esconder ou a temer, a não ser a própria morte… São instintos de sobrevivência dos que não se sentem amados. E pergunto-me: Estarei pronto para aceitar o meu próprio pranto? Terei alguma vez a capacidade de amar estes nossos irmãos? Conseguirei deixar-me amar por eles, ao ponto de dar toda a minha vida em prol das suas dores e desamparos? As irmãs franciscanas estão a fazê-lo.
As lágrimas de uma idosa acamada num correr de tábuas e na escuridão de um pequeno quarto, pareciam lâminas a perfurar o meu peito. Dizia ela, enquanto recebia das mãos de uma das irmãs um punhado de roupa: “Irmã, obrigado, mas eu já não vou vestir essas roupas”. A sua hora está próxima e a solidão é infinitamente dolorosa.
As crianças nascem sem perspectivas de futuro e os idosos falecem isolados.
Que Deus nos ilumine e, como me dizia alguém numa dessas roças, eu vos digo: - Bom caminho.
José Augusto
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