sexta-feira, 31 de julho de 2009

Caminhos de Santiago, caminhos para a vida!


Caminhando com rumo, caminhando com destino...
É assim que todos sonhamos a vida.
No entanto nem tudo nos sorri, mas acredito que perante qualquer que seja a dificuldade, podemos sempre ter um rumo, um destino.

Caminhos de Santiago, caminhos para a vida!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Um ano depois

Precisamente à um ano atrás, pousei eu os pés na linda e acolhedora Ilha de São Tomé.

A vegetação era algo que eu ansiava por poder ver e tocar, assim como sentir o odor da terra, o odor de África.

Assim que o avião aterrou logo me precipitei sobre a janela e lá estavam as palmeiras, bananeiras e o capim, pintando de verde o meu sonho de conhecer África. As primeiras pessoas que vi foram muitas mulheres em fila indiana com bacias à cabeça. Esperavam que o avião passasse para que pudessem atravessar a pista de aterragem.

O caos no aeroporto marcou no imediato uma tremenda distância na diferença entre Portugal no que toca ao acesso a determinadas tecnologias.

Cá fora, dezenas de crianças esperavam pelos recém chegados a São Tomé para tentarem trocar peças de artesanato por alguns euros ou simplesmente por um caderno escolar.

As irmãs esperavam felicíssimas pelos "missionários" de Carregosa e levaram-nos de imediato à residência hospitalar de São Tomé para que lá, pudéssemos tomar o pequeno almoço. A nossa primeira refeição em São Tomé. (Pão de São Tomé com manteiga de Oliveira de Azeméis, combinam muito bem).

Fomos ao centro da capital tratar de algumas burocracias com respeito ao levantamento do contentor que havíamos enviado de Carregosa com algumas toneladas de alimentação, brinquedos, roupas, material escolar, ferramentas, tecidos, etc, etc, etc. Apenas oito dias depois o conseguiríamos tirar de lá e com muita tentativa de corrupção pelo meio. "Leve leve", diziam eles quando nos aborrecíamos por esperar um dia por uma assinatura.

Fizemos um visita ao lar da santa casa da misericórdia em São Tomé onde tive o prazer de "conversar" com uma senhora com mais ou menos 107 anos de idade. Em São Tomé, os velhos são olhados como bruxos e abandonados à sua sorte. Muitas vezes dormem no chão, por debaixo das suas próprias casas, pois perderam o direito a lugar na obra que outrora foi deles.

Voltamos a meio da manhã à residência das irmãs para tomar o "mata bicho", um género de lanche, pois o Sol já raiava desde as 5 da manhã.

Partimos finalmente para Neves e o caminho é deslumbrante. Grande parte feito à beirinha do mar com paisagens fenomenais. Pelo meio ainda paramos umas duas vezes para comprar carvão e fruta.
Chegamos a Neves, a segunda maior cidade do país, que mais parece o casal ventoso. Casas em madeira ou chapa, ruas em terra, dezenas de mulheres e crianças na berma da estrada tentando vender fruta, peixe ou carvão. Nas tabernas, que parecem a Tômbola da nossa paróquia, já se notam alguns sinais de alcoolismo em jovens e menos jovens. Barulho, muito barulho, fala-se extremamente alto, grita-se, assobia-se e o cheiro é, inicialmente, insuportável.

Lar doce lar. Pisamos o chão em casa da irmãs em Neves e fomos levados a conhecer uma casa em madeira que havia sido construída num mês com o propósito de nos albergar e à qual viríamos a baptizar de "Casa Fiz do Mundo", com direito a destapar de placa e discurso. Claro que tudo isto longe das objectivas e câmaras dos paparazzis.

Estranhamente fomos almoçar, pois tinhamos feito tanta coisa e ainda era meio dia. -"Até Domingo não trabalhais, ides passear e conhecer este país", dizia a irmã Lúcia com o brilho nos olhas e a alegria de voltar a ter gente de Carregosa na sua casa. Levou-nos a ver a carpintaria, o aviário, a urbanização Mãe Clara, a padaria do Duda, o Lar da terceira idade e todas as instalações que três simples mulheres geriam.
Já na companhia da Irmã Maria do Céu, fomos visitar uma roça para vermos algumas das muitas instalações construídas por nossos conterrâneos, e que hoje estão ao abandono e sem uso. Paramos numa praia onde tocamos a água tropical e podemos observar a linha do horizonte longe, muito longe, como nunca eu tinha visto. O por do Sol estava lindo e com toda aquela vegetação, sentia-me num sonho. Mas a pobreza rodeava tudo isto e muita coisa estava para acontecer, muita coisa estava para mexer e abanar connosco.

Regressamos a casa e rezamos as vésperas, jantamos e fomos dormir ao som de África.

Foi assim o meu primeiro dia em São Tomé e Príncipe a 10 de Julho de 2008.

"Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida." - Sérgio Godinho